quinta-feira, 2 de abril de 2009

Infância f(el)iz

As coisas mais simples são as mais caras para mim.
Chupar bala soft de morango torcendo para não engolir porque doía muito a garganta.
Papel colorido de ovo de páscoa. O chocolate era bom, mas o papel era mágico.
Meu patinete vermelho, que era de segunda mão.
Minha peteca, que destruída em dias serviu de modelo para minha própria criação: jornal bem amassado, um plástico firme para proteger e fazer o papel das penas e um elástico para amarrar.
Incrível.
Meu primeiro casaco vermelho, de capuz, de zíper. Presente de meu irmão adolescente que me levou com ele na loja e me deixou escolher!
Minha pasta preta do primeiro ano escolar. Ainda sinto seu cheiro de nova e o cheiro do lanche que ocupava ali um cantinho.
Meu balanço de cordas na mangueira.
O travesseiro velho e gordo que eu vestia com uma camiseta velha para ser o meu bebê. Bebês são volumosos, bonecas não servem para preencher um abraço.
Minha camiseta azul com listra vermelha nas mangas e gola, com a qual eu ia ao matinê no domingo.
Minha sandalhinha de trancinhas vermelhas.
Minhas paçoquinhas.
Meu gato amarelo que só se chamava Bichano.
Nenhuma dessas coisas está em alguma fotografia.
Nenhuma delas eu guardei de recordação.
Nada do que me foi caro custou sacrifício algum de um dinheiro que nunca tivemos.
Sou um mosaico.
Consigo olhar e ver que um chocolate que emoldura uma cara suja de criança é muito mais feliz do que o chocolate que ainda está embalado, em uma rica caixa, sobre uma rica mesa, de uma rica casa onde mora uma pobre mulher.

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