Olhou de lado como quem desconfia do espaço que ocupa.
Depois manteve os olhos no chão como quem não esconde a timidez.
Mas dava para sentir o coração palpitando.
Então atravessou a rua e esbarrou no camelô que vendia óculos.
Alguns caíram, outros ficaram pendurados como quem olha a cena de cima para baixo.
Desculpou-se, mas não esperou para ouvir os impropérios do trabalhador informal.
Entrou rapidamente no bar e declarou:
- é um assalto!
- ah, é? e vai levar o quê? uma média com pão requentado?
- tô falando sério
- sua voz nem sai e tá aí tremendo que nem vara verde, tú tá é com fome... o isso é coisa de droga?
- é um assalto! me passa a grana senão vai dá merda
- olha aqui filho, se quiser um emprego, pode ir lá dentro trocar essa camisa por um avental que o Juventino deixou e me ajuda a limpar as mesas
Saiu desconcertado.
No dia seguinte chegou pelo mesmo lado da rua e entrou com passo decidido, mas ainda com a cabeça baixa, olhos erguidos como quem espia por cima dos óculos, mas ele não usava nenhum.
- e aí, vai assaltar o quê hoje?
- onde é mesmo que fica o avental que o tal Juvêncio deixou?
Com o dinheiro da primeira semana comprou um óculos no camelô que não o reconheceu e passou a andar de cabeça erguida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.