segunda-feira, 6 de abril de 2009

Maria Eugênia

Ele realizou o sonho da mãe e conseguiu um emprego no Banco do Brasil.
Rapaz distinto, barba sempre bem feita, cabelo bem cortado.
Fumava, lá isso sim, mas já prometera fazer promessa e parar.
Bom aluno. Bem educado. Torcedor de futebol, mas pelo rádio ou pela televisão. Nada de ir ao campo, muito perigoso.
Churrasqueiro, interessado em boa música. Poucos, mas bons amigos.
De uns tempos pra cá deu de chegar em casa apressado, tomar banho e arrumar alguma coisa pra fazer na varanda da frente.
Molhar as plantas. Hummm... Trocar uma lâmpada.
Pendurar um gancho novo para uma rede que ainda nem foi comprada.
Tudo isso tem um nome. Mas ele não sabe o nome.
Ele só sabe o jeito delicado de caminhar.
Ele só sabe a cor vermelha do cabelo, algumas sardas no rosto e por isso conclui uns olhos cor de mar. Conclui porque não vê, cabeça baixa, de olho nos buracos da calçada.
Correta conclusão. Olhos cor de mar.
Ele só sabe um cheiro bom no ar.
Perfume acabando depois de um longo dia de...
De quê? Ele não sabe.
Sabe a hora exata da mágica visão.
Até que um dia fica sem seu prêmio.
Atrasado? Atrasada?
No dia seguinte, nada.
Demitida? Doente?
No terceiro dia, quase em desespero, nada.
E o nome? Ele não sabe.
Maria Eugênia mudou-se para a capital.
Quer trabalhar no rádio. Apresentar músicas e notícias.
A voz e os olhos cor de mar perdidos para sempre.
Mas ele, ele pode ser encontrado na varanda de sua casa, esperando o jantar, ou no Banco do Brasil.

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