Passo por uma blusa e acho absurdamente cara, dois passos depois, passo pelo caixa da livraria carregando alguns livros cujo valor daria para comprar alguma coisa mais além da blusa.
Mas nem só de intelectualidade vive o meu bolso assombrado. Sapatos são a minha tentação maior. Um dia o gene que determina o grau dessa tentação será descoberto e todas as mulheres serão classificadas, em escala de 50 a 100. Menos que 50 não existirá.
Barcelona me maltratou. Passeando despreocupadamente me apaixonei perdidamente por uma bota em uma vitrine. A loja estava fechada. Voltei mais tarde, ainda fechada e então, para alívio do cartão de crédito e para meu desespero, Beto encontrou um bilhete discreto: de vacaciones hasta el 2 de septiembre. Eu voltaria em 30 de agosto! Assim, sem mais nem menos, loja fechada, vamos descansar, vamos viajar, vamos aproveitar o verão.
Mas Salamanca, para honrar Espanha, me proporcionou uma das compras mais emocionantes.
Passeava a noite e mesmo com pouca iluminação um sapato fez sinal para mim.
Estava ali, quieto, me desafiando. Loja fechada. Procurei pelo fatídico bilhete. Nada.
Na manhã seguinte já tinha programa: loja de sapatos.
Sol, dia claro, coração aos pulos. Entro na loja e ao falar com o vendedor, pelo acento, me pergunta:
- italiana?
- não, brasileira
- ah, que legal, eu também!
Experimentei o sapato, acariciei sua parceira, a bolsa e os vi sendo amorosamente embrulhados no papel de seda branco enquanto ele me explicava:
- uma peça especial, um exercício de Ermenegildo Zegna para Muxart Barcelona
Poderia ser de um ilustre desconhecido, isso não faria diferença nenhuma, bom... talvez eu não tivesse deixado lá praticamente toda a minha verba de compras, mas isso é detalhe.
Um dos sapatos mais esquisitos e lindos que já tive até hoje estava quase escondido em uma pequena loja, de um brasileiro, quase escondido em Salamanca, que echo de menos!
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