Eu tenho sobrinhas e sobrinhos. Muitos, podem achar alguns; poucos, podem achar outros.
E, de verdade, todos cabem em meu coração. Nenhum deles briga por espaço, todos eles sabem, alguns menos, outros mais, que tenho um jeito particular de gostar de pessoas.
A minha sobrinha preferida é a Renata, que aprendeu a andar correndo atrás de um pato (de verdade) que eu tinha no quintal, que me convidava para ir à saída, em tardes de férias e "a saída" nada mais era do que o portão, que insistia em usar um vestido vermelho de manga comprida em um calor de 40 graus!
A minha outra sobrinha preferida é a Ana Paula, que enfiava colheradas de danoninho (que ela deveria comer!) na minha boca, que me fazia sair para qualquer passeio carregando livros e cadernos, que depois guardava pela janela, porque só não chorava se eu dissesse que ia para a escola, que passava tardes inteiras recolhendo retalhos quando minha mãe estava costurando e perguntava: esse serve tivó (era assim que eu a ensinei a chamar minha mãe, era muito engraçado!)
E tenho mais uma sobrinha preferida que é a Roberta, que adorava puxar meu cabelo e agitar as perninhas enquanto eu tentava trocar sua fralda. Que não se cansava de jogar seu bichinho de borracha no chão porque a graça estava mesmo em me fazer pegar. Que preferia tomar sorvete "de cabo" (palito!) e não qualquer taça linda com cobertura de chocolate!
Já o meu sobrinho preferido é o Ramon, que chamamos carinhosamente de Neto, seu último nome. Neto que gostava de brincar de circo comigo. Que escalava os batentes da porta com as pernas e lá no alto cruzava os braços se sentindo um verdadeiro super herói. Que engoliu prego, que caiu muitas vezes de bicicleta, que era vítima das brincadeiras do meu irmão, seu tio, porque era magrinho.
E a minha sobrinha preferida Beatriz? Ah, linda com seu rosto emoldurado por cabelos cacheados e as pernas tão cheias de dobrinhas! Que chamava cachorro malhado de estampado, que submetia meu pai, seu avó, a inimagináveis sessões de maquiagem. Que chorava para ouvir o vovô dizer: deixa ela, deixa que ela usava em qualquer situação que não lhe fosse favorável, ela mesma dizia: deixa ela!
E tenho uma sobrinha preferida que é também minha afilhada - Mariana - que nasceu no mesmo dia do aniversário do meu pai. Que me deixou ansiosa para conhecê-la porque já morando tão longe, ansiava por encontrá-la. E ela, tão indiferente aos meus apertos e beijos, coisas de tia. Um bebe ora de amarelo, ora de rosa, que eu queria que acordasse para ver os olhos, para ver sorrir e qual o quê, indiferente as minhas necessidades de madrinha ela queria é mamar e descansar. Passeios, brinquedos, sorrisos.
Agora que Mariana é praticamente uma mocinha, e parece que meus irmãos já não pretendem mais ter bebês, ganhei um outro sobrinho preferido, o Oscar, filho do meu cunhado. É ainda um bebê, que cresce feliz. Que adora andar em pé na motoca elétrica vermelha, já se sentindo um galã. Que adora instrumentos musicais, principalmente um pandeiro, que imita o bocejo dos bichos.
A vida segue. Vejo traços dos meus irmãos em seus filhos, meus traços em minhas filhas, traços que vieram de nossos pais, que já os traziam de nossos avós.
Já vejo em Gabriel e Felipe olhos de Paula. Em Maria Isabel, olhos de Beatriz.
É, alguns dos meus bebês já geraram bebês. A vida não espera ninguém, não se preocupa com minha situação de tia avó quando na verdade quero recomendar aos meus sobrinhos que me apresentem como prima!
São parte de minha história e quero todos presentes no meu aniversário de cem anos!
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