Encantada com o universo, assistiu o filme inteiro com pequenos comentários, sem pedir água, banheiro, mamadeira ou qualquer outra coisa.
Eu fiquei orgulhosa da minha pequena. Será que é assim que nasce um cinéfilo?
Na saída mostramos cartazes de outros filmes infantis que estavam em exibição e seguimos o curso de nosso primeiro final de semana com cinema na programação.
Na semana seguinte, quase dez da manhã, ela me puxa pela manga e começa:
- vamos, quelo ver "apantis"
Demorei a entender, mas compreendi. Ela queria repetir o sábado anterior indo ao cinema e queria ver Atlantis, o filme infantil que eu tinha mostrado no cartaz.
Consultamos rapidamente a programação e estava passando só no Jardim Sul, com uma sessão em uma hora. Voamos para lá. Uma sessão normal, compramos ingresso e, mamadeira a tiracolo, assistiu o filme inteirinho, sentada em sua cadeira, com cadeirinha para ajudar na altura, como quem sempre estivesse estado ali.
Um mundo novo se abriu e desde então não se perde um lançamento, uma pré estréia, com direito a todo o universo que o envolve: bonecos dos personagens, dvds, livros de onde as histórias se originaram e por aí vai.
Quando a caçula nasceu, esse mundo não foi nenhuma novidade.
Não temos o hábito de formular a famosa pergunta: o que vai ser quando crescer?
Até porque, uma das muitas crianças espertas que existem por aí já respondeu com muita propriedade: vou ser gente grande!
Mas é inevitável que se faça e gosto de ouvir as respostas sem o ônus de gerar essa expectativa, essa ansiedade.
Ao ser indagada, por volta dos 4 anos, o que seria quando crescesse, minha pequena respondeu categórica:
- vou trabalhar no cinema
- ah, vai ser atriz
Mas quase ofendida retrucou imediatamente:
- não... vou mandar na atriz, vou fazer o filme
E entendi que ela ainda não sabia uma palavra: cineasta.
Carrega isso em seu discurso até hoje. Escreve histórias que diz que filmará, inventa personagens, cria cenas, dirige nossas falas durante o jantar. Assiste trechos de filme sem som enquanto ouve uma música no fone de ouvido para "encaixar" a cena, cria finais diferentes para histórias consagradas. Reconhece a voz dos dubladores: ah, essa voz é a mesmo do...
Usa fragmentos dos textos para inserir em suas conversas desde muito pequena.
Antes mesmo dos 5, ao ser mandada sentar e pensar sobre uma traquinagem bradou:
- Justiça!
E não era senão Esmeralda, a cigana do Corcunda de Notre Dame, bradando em cena comovente!
Está crescendo a minha menina.
Ontem, no café da manhã, eu comentava sobre um problema do cotidiano e ela filosofou:
- Olha, encare a vida como se fosse um filme. Se algo der errado é como se o diretor dissesse: corta, isso não está bom!
E, percebendo que meus olhos se encheram de lágrimas, tentou me fazer rir:
- Meu nome pode ser meio esquisito, como o do Naruto, mas um dia vai estar nas telonas, na abertura de um filme!
Não quero cortes, está bom assim, mesmo que tenha um final diferente, agora, está muito bom assim!