terça-feira, 11 de maio de 2010

Listas

Convivia com listas. Era natural que aguardasse mais uma sem sobressaltos e não entendia porque as pessoas se angustiavam tanto com isso.
Quando se mudou, sua mãe aos prantos o chamou ao quarto e pediu para olharem juntos, uma vez mais, a caixa.
A caixa era uma relíquia para a mãe. Se a mãe alguma vez preparara um testamento certamente a caixa lhe caberia.
Uma caixa de recordações.
O resultado do exame de sangue dando positivo para a gravidez e foi então que as listas começaram.
Lista dos amigos que foram avisados por telefone.
Lista dos parentes que receberam um cartão.
Lista das frutas que deveria comer durante a gravidez.
Lista das roupas que deveria comprar.
Lista dos livros que deveria ler.
Lista dos nomes de meninos e meninas que mais agradavam.
Quando ficou maior, a mãe preparava listas com as atividades do dia.
Listas de supermercado.
Listas de presente para o Natal.
Listas de aprovados em vestibulinhos e vestibulões.
Listas de concursos. Listas telefônicas. Listas de mulheres que queria namorar e listas de mulheres de quem deveria se afastar.
Portanto, para ele, uma lista a mais ou uma lista a menos não fazia muita diferença.
Começou batendo bola no colégio, depois da aula, aí seguia com os amigos e continuavam com a bola no pé, no fim da rua sem saída.
O pai achou por bem que uma escolinha de futebol seria uma vitrine porque ninguém mais é descoberto jogando pelada.
Lista de espera.
Lista de aprovado.
Lista de selecionado.
Lista de convocado.
Não, não fora convocado para desalento dos que contavam sobre outras listas, a de 58, a de 70, a de 94.
Lista de 23, lista de 7 segredos.
Gordo, magro, machucado, destrambelhado. Listas.
Pela primeira vez não estava na lista e, que a mãe não lhe ouvisse, mas depois do susto, foi praticamente uma libertação!

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