quinta-feira, 27 de maio de 2010

É fácil observar

A fumaça é engraçada. Ela quer desviar a atenção da beleza do fogo com sua feiúra.
Ela está convencida de sua feiúra, não eu, mas ela não ouve ninguém.
Embaça tudo, afasta quem tenta se aproximar, mas ela não existe sem ele. E quando ele morre, ela vai mudando de cor, até desaparecer.
Quase a mesma situação em que vive o espinho no talo da rosa. Mas eles não se conhecem. Até pode ser que um grande incêndio tenha destruído uma roseira. E ambos em sua dor podem ter trocado um olhar cúmplice, mas quem poderia ter registrado isso?

As relações são cheias de armadilhas. A lua, quase transparente, tem a audácia de aparecer de dia enquanto o sol brilha. Passa pelo céu com aquele ar de mulher que sai do banho enrolada na toalha querendo ser vista pela janela, ou flagrada pela visita que a espera na sala.
Uma cara de surpresa que não surpreende ninguém.
A lua parece um gato dormindo em lugar proibido. O sol, elegante, finge que não vê.
Ele não tem esse descaramento. O sol da meia noite não vale, é um fenômeno que ocorre nas latitudes acima de 66º 33’ 39" N ou S, onde ele não se põe durante pelo menos 95 horas seguidas. Em latitudes superiores a 80 graus, não se põe por mais de setenta dias, não há noites durante mais de dois meses.
Talvez seja um jeito dele se vingar sem castigar tanta gente que não merece o desplante da lua.

Relações, fáceis de serem observadas, difíceis de serem vividas.

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