Santa Luzia é a Santa que protege e resolve todos os problemas relacionados com “os olhos” das pessoas. Recebeu de Nosso Senhor esta linda missão porque, como conta a tradição, por não aceitar falsos deuses, foi presa e arrancaram-lhe os olhos e, no dia seguinte, ela estava com eles perfeitos. Santa Luzia morreu no dia 13 de dezembro do ano 303.
Meus olhos perfeitos, que tudo observam com clareza, perto e longe, 180 graus!
Desde criança eu queria usar óculos. E inventava dores de cabeça e apertava os olhos como quem tinha dificuldades.
Minha mãe e sua paciência incomensurável me levavam algumas vezes aos especialistas.
Um deles, mais que raiva!, passou-me uma série de exercícios com um lápis. Óculos que era bom mesmo, nada.
Alguns anos depois, um outro, menos preocupado, menos atento, passou-me uma receita para 0,25 em um deles, direito ou esquerdo, já não me lembro qual e apenas um vidro no outro e não houve alegria maior do que aquela coisa pendurada em minha cara miúda.
Por muito e muito tempo eu me recusava a voltar ao médico com medo de não ter um 0,50 mas vidro em ambas as lentes e adeus adorado objeto.
Eu me debruçava em livros e cadernos e jornais e revistas e bulas de remédio e panfletos e por isso, claro vista cansada!
Adulta, uma oftalmologista ousou me dizer: se a vista cansa é porque não é saudável, seus olhos são muito saudáveis, você não precisa de óculos com grau nenhum!
E passei toda a faculdade com cara de quem esqueceu os óculos em casa, sem grau algum, solidária com os que buscavam trocar os óculos pelas lentes.
Outra tentativa e a recomendação: olha, você não tem nada, parabéns! e, se gosta tanto de óculos, pode fazer uma coleção de óculos de sol, que tal?
Uma ofensa, uma futilidade, conselho velho porque eu já tinha uma porção deles.
Finalmente, pelos idos de 99, idade avaçando, tudo se anuviou. E na consulta... Vamos esperar o bebê nascer porque é muito comum que na gravidez haja alteração na visão, mas é passageira, seria muito precipitado fazer algo e falta tão pouco para o bebê chegar, não é?
Assim o tempo foi passando, fui deixando isso de lado, sempre ouvindo: que benção ter olhos assim, deve ser porque se chama Lusia! E agora, que realmente tudo se complica, que os óculos vivem pendurados no pescoço, que preciso lavá-los com detergente, que me apertam atrás da orelha, já não vejo muita graça.
Hoje eu os esqueci na minha mesinha de cabeceira, sobre o livro, e o dia vai ser longo e distante de todas as letras pequenininhas.
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