Queria contar uma história bem longa, mas não tinha tempo.
Pensou em escrever um livro, com capítulos, escreveria aos poucos e assim poderia escrever tudo.
Levava bloco e caneta e anotava idéias.
Nunca deixou de anotar nada do que lhe parecesse bom para o livro.
O primeiro personagem, Eustáquio.
Quem era ele? Um marceneiro.
Ou talvez um eletricista.
Lembrou-se do moço que fora consertar o chuveiro.
Fazia pequenos consertos, mas também trabalhava na prefeitura com a fiação elétrica e também estudava. Fazia faculdade - engenharia elétrica - e pretendia trabalhar nas usinas hidrelétricas.
Não era um personagem, era um moço que tinha estado em sua casa. Com planos, com objetivos muito claros.
Deixou o Eustáquio de lado.
Não poderia escrever tanto sobre um único personagem sem que se envolvesse com outros.
Outra hora anotou que a mulher de Eustáquio poderia ser a Daniela.
Moça morena, trigueira, faceira. Hum, bonita demais?
Não. Elas existem, são assim mesmo. E são carinhosas.
As moças das revistas são diferentes.
E, seguramente, são mais tristes que a Daniela do Eustáquio porque se forem a uma festa e não saírem na revista da semana a depressão é grande.
Guardou o bloco. Tampou a caneta. O trem já estava quase chegando e ele tinha tanta coisa pra fazer no cartório.
O nome do primeiro bebê que registrou naquele dia... Eustáquio.
Levou um susto, levantou os olhos do computador e olhou para o pai que, meio sem graça, justificou:
- é, feio, esquisito, mas sabe como é, é o nome do meu sogro, morreu sem conhecer o menino, vamos chamá-lo de Neto
Apenas sorriu. Pensou em falar sobre o bloco, o sonho, o personagem, mas a fila estava grande e ele apenas finalizou o documento.
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