Vasculho papéis velhos atrás de uma poesia bonita que talvez eu tenha escrito em um momento inspirado.
Encontro duas respostas: ou nunca escrevi uma poesia bonita ou estou muito exigente e meu senso de hoje me faz mais crítica do que eu deveria ser.
Não encontro as rimas.
Não encontro as palavras finas.
Não encontro as dores de agora naquelas dores que tanto me fizeram chorar.
Ou eu era muito boba ou agora sou muito cética para entender tudo aquilo que marcou os papéis.
Tive uma máquina de datilografar. Por que não a conservei?
Medo do ataque das teclas ensandecidas e esquecidas.
Uma máquina nos enfrenta porque depois que nos entregamos aos seus registros, o que resta é rasgar o papel. Não se apaga como agora.
Teclas duras que exigem esforço e rapidez.
Mãos endurecidas.
Vasculho inutilmente papéis velhos.
No futuro hei de vasculhar arquivos.
Tão frágeis e apagáveis.
Apagáveis? Se não está segura uma tecla de busca.
O dicionário me olha inconformado.
Sou um bicho estranho abrindo esse livro pesado. Olham-me de rabo de olho.
De onde saiu essa?
Dias apagados.
Dias de chuva no final da primavera.
O verão espera lânguido a sua hora, enquanto eu vasculho os papéis.
Se encontrar, talvez tenha pudor de revelar.
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