sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Decisão

Escreveu um bilhete apressado.
Letras atrapalhadas, frases mal formuladas.
Correu pela casa reunindo coisas.
Preparou uma mochila infeliz.
Tomou o resto de suco que encontrou na geladeira.
Experimentou um biscoito, murcho.
Cerrou as cortinas, fechou as janelas.
Olhou para a planta desolada no vaso.
Deixou no corredor, na esperança de água de chuva.
Pensou em desligar o relógio da luz.
Releu o bilhete. Pensou em desistir.
Pensou em escrever outro bilhete.
Não podia perder tempo.
Uma buzina lá fora.
Um choro de criança no andar de baixo.
Olhou o porta-retrato no aparador.
Aparando a incerteza.
Quando foi que decidiu?
Por que decidiu?
Onde achou a caneta e o papel para aquele bilhete?
A boca secou, o coração disparou.
Saiu, fechou a porta tão devagar, como nunca conseguiu.
O tempo nublado encobriu também a figura solitária.
Desapareceu na confusão da cidade.
Apesar de nublado não choveu.
A planta ainda agoniza no corredor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.