terça-feira, 9 de novembro de 2010

A reencarnação dos objetos

Algo está errado se reencarnar está associado à carne porque os objetos são coisas.
E reencarnação é o mesmo que Palingenesia – do grego palin que é igual à repetição, de novo, mais genes(e) que é igual a nascimento, portanto,  renascimentos sucessivos dos mesmos indivíduos. E aí pode não ser de carne.

E os objetos sempre carregam almas, eu sei, elas estão lá.
O galho que eu recolhi no interior da Bahia e que me acompanhou por toda a viagem - e depois comigo pelos cantos dos armários até que em uma mudança despedi-me dele com dor no coração do desapego - reencarnou no galho que minha caçula recolheu na beira da praia.
Ela o chamou de Rei Arthur e por todos os dias em que passamos entre sol e preguiça ela cuidou dele como quem cuida de um animalzinho.
Um galho tem alma.
As pedras que meu pai e eu recolhemos por nossos caminhos carregam muito do carinho que nos uniu.
As pedras não têm filhos.
As pedras não têm lágrimas.
As pedras não têm alma para quem não sabe olhar.

O Rei Arthur ainda não reencarnou em nenhum outro galho que tenha cruzado nosso caminho em um passeio ou viagem de férias. Pode ser na próxima vez.
E é a reencarnação porque não é qualquer galho.
Um galho nos salta aos olhos e nos fala ao coração.
Por desapego não podemos colecionar e porque não os colecionamos enfeitam nossa existência e assim vamos acreditando nas coisas que nos ensinam os nossos corações.
É uno.
Mas me vejo em meus iguais.

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