Ele era alegre, mas de vez em quando ficava triste. Isso é normal. Acontece com todo mundo.
Ele não gostava muito do nome dele, mas também isso não era importante. Ele tinha muitos apelidos.
Na escola um, em casa outro, no trabalho um terceiro. Ele se divertia e estranhava quando, na sala do médico, alguém o chamava pelo nome.
Tinha também um sobrenome.
Tinha visto num filme ou lido em algum livro um personagem que dizia que era melhor ter um nome comum. Para os que têm nome comum nunca há muita expectativa e por isso vivem melhor, mais para si.
Mesmo alegre ele foi ficando cada vez mais triste. Já não parecia tão normal, mas não sabia se acontecia com todo mundo ou só com ele. Não queria perguntar. Não tinha com quem conversar sobre isso.
Algumas pessoas observaram, algumas fizeram uma graça ou outra com esse estado de espírito, mas depois o deixaram em paz.
Ele já não tinha ânimo para o trabalho, mas não deixava de cumprir todos os compromissos.
Já não tinha mais vontade de ir ao jogo de futebol. Ficava trabalhando até mais tarde e depois escorregava para casa, torcendo para não ser visto pelos amigos.
Já não se ocupava em programar o final de semana. Preferia ver um pouco de TV, ficar quieto no quarto e só.
A mãe também não se importou.
Ela também tinha um nome bem comum.
Ele foi ficando cada vez mais triste. Um aperto no peito. Comprou uma camisa. Não melhorou.
Foi ao cinema. Filme bom, mas...
Folheou umas revistas. Deitou e não conseguiu dormir.
As costas reclamaram de tanto descanso. Pensou nos comprimidos que a mãe tomava para dormir.
Resolveu tomar um.
Demorou pra fazer efeito, tomou mais um, e outro e mais outro, tomou quase o vidro todo.
Deitou e dormiu para sempre.
Foi assim que ele morreu, o Adamastor.
De uma tristeza que não se identificou.
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