Ela não gostava de seu nome, mas ninguém precisava saber disso.
Quando se apresentava ela o dizia em alto e bom som, com firmeza, por isso ninguém suspeitava.
Ela não gostava de ficar sozinha.
Estava sempre agarrada à saia da mãe quando era bem pequena e quando foi crescendo foi se cercando de primos, primas, irmãos, amigos.
Depois namorou e casou cedo.
Desse primeiro casamento teve uma filha.
Por que não gostava de ficar sozinha, depois que se separou logo arrumou um namorado.
E depois outro, mesmo ainda tendo o primeiro.
Não gostava mesmo de ficar sozinha e não gostava de seu nome.
Um dia, ela estava sozinha no carro, mesmo não gostando de ficar sozinha.
Voltava não se sabe de onde, talvez de uma reunião, talvez de uma conversa animada com a mãe, talvez de um encontro romântico, talvez de uma reunião na escola da filha. Não se sabe.
Não gostava de ficar sozinha, mas nem por isso compartilhava tudo o que andava fazendo.
Só se sabe que um dia, quer dizer uma noite, ela chegou sozinha de carro.
Esses detalhes foram contados pelo Seu José. Ele viu quase tudo e não pode fazer quase nada, a não ser lamentar.
Pois então, ela chegou sozinha de carro e enquanto esperava o portão abrir o sujeito apontou a arma e pediu o carro.
Ela nem abriu o vidro, o portão acabou de abrir e ela entrou de uma vez. Estacionou.
O Seu José ficou encolhidinho na cabine, ia chamar a polícia, mas não viu mais o sujeito, esperou um pouco até tudo se acalmar e ia interfonar para ela antes de qualquer coisa.
Ela também deve ter esperado um pouco no carro.
Depois deve ter descido devagar porque para alcançar o elevador era preciso passar em frente ao portão.
Andou com firmeza, pensando que o susto tinha passado, mas não!
O sujeito estava lá, agachado, bufafa de raiva e não hesitou em atirar.
Foi assim que ela morreu, a Quitéria.
Ela não gostava de ficar sozinha, mas não ficou. Deixou outros para trás. Muitos outros.
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