quinta-feira, 24 de março de 2011

O garçom

A mãe é proprietária de uma elegante loja de móveis.
Ele já passou dos quarenta, mas é garçom.
A mãe desistiu de acreditar que ele seria seu sucessor.
Ele serve as mesas reclamando a falta que o mar lhe faz.
A mãe tem os cabelos quase azuis.
Ele tem um cabelo sem cor, que pode ter mechas verdes no alto verão.
A mãe recebe os clientes com uma gentileza de educação inglesa.
Ele faz caras e bocas enquanto recolhe pratos e copos.
Ela gosta do luxo da cidade grande.
Ele gosta do dolce far niente da praia.
Ela perdeu as esperanças de que sua loja fique na família.
Ele perdeu as esperanças de que possa envelhecer pegando ondas.
O destino juntou peças erradas num quebra cabeças que o tempo não deu conta de corrigir.
Eu vejo nas rugas do rosto queimado de sol toda a história que diário nenhum perdeu tempo em registrar.
- o meu suco é de água de coco com uva verde
- ah... isso é bom mesmo na praia!

Um comentário:

  1. Os contrastes das gerações. Por mim, estou mais para garçom... garçonete. Aprecio a vida "simples" daqueles que vivem sobre a crista das ondas. Ah, saudades do litoral. Nada como dar vida às lembranças de alguém.

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