Conheci uma índia chamada Mirinda.
Claro que, morando em uma cidade chamada Tupã, não causa espanto a ninguém que eu a tenha conhecido.
Mas ela estava incorporada à vida da cidade porque naquela época — hoje já não sei — mas naquela época ainda haviam tribos nos arredores da cidade.
Era sempre um acontecimento, apesar de acontecer todo sábado, a vinda de grupos deles para as compras na cidade.
Alguns se pintavam, as mulheres olhavam curiosas, sorrisos tímidos, crianças nos braços ou arrastadas pelos caminhos. E no caminho de volta, muitos deles se perdiam embriagados pelas calçadas.
Mas Mirinda não. Ela estava incorporada à vida da cidade porque seu filho Otávio não era filho de índio, mas filho de branco. De um branco que além dela ninguém conheceu.
Ele trabalhava em uma gráfica e moravam os dois em um cômodo no fundo do prédio.
Otávio era amigo de meu irmão e eu não perdia a chance de olhar para ele como se fosse um mistério a ser desvendado e muito menos a chance de conversar com ela. Tinha uma voz arrastada, uma dicção comprometida e eu não entendia muita coisa, mas fazia de tudo para que me contasse coisas do trabalho de Otávio porque me divertia muito ouvindo Mirinda dizer pepel em vez de papel.
Mirinda morreu velha encolhida em sua pele morena. De Otávio não sei.
Mas ela teve um pepel importante na minha infância ensinando-me que gente é de qualquer matéria, de qualquer tribo e de qualquer cor.
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