Frank Sulloway é um pesquisador do Massachusetts Institute of Technology que fez um grande estudo sobre a influência da ordem de nascimento — primogênito, caçula, do meio — no comportamento das pessoas. Algumas conclusões fazem sentido, outras são mais questionáveis. Quando olho para o meu universo nem todos os pingos estão sobre os is da narrativa.
As famílias diminuíram muito. Muitos são filhos únicos. Não há nada de errado com isso. Eu apenas sinto pena da história. A história da família se perde quando ela envelhece e quando um ou outro se vai. Quando se tem pelo menos um irmão há sempre uma história: você era o preferido da mamãe, você quebrou meu nariz, é porque você quebrou meu carrinho. Você escondia o bife embaixo do arroz para ganhar outro, é e você cuspia a abóbora no guardanapo e por aí vai.
Ontem, preparando as crianças para dormir o papai disse para a primogênita:
- vou te ensinar a arrumar a sua cama, com a sua idade eu já fazia isso
Ajudei:
- e eu também! E insisti:
- e a sua priminha já arruma a cama, sabe lavar louça, até cozinha
E ela já preocupada:
- ah, mas é bem mais velha!
E eu:
- ah, mas faz isso há muito tempo!
E ela:
- ah, mas é filha única!
A arte da argumentação que cultivamos em minha casa às vezes é de matar! Mas vamos lá, eu retruquei:
- ah, mas eu com a sua idade fazia tudo isso, menos cozinhar, e tinha quatro irmãos!
No que minha caçula nos interrompe curiosa:
- e o que aconteceu com eles?
- nada, crescemos todos e hoje eles são seu tio e tias!
Nossa lição doméstica encerrou-se com uma lição de tempo verbal.
Papai leu mais um capítulo do livro do momento porque, mais do que uma rotina, é o que alimenta a alma enquanto as histórias vão sendo construídas.
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