Muitos dizem que sete é um número mágico. Eu gosto muito do número sem muitas explicações filosóficas, talvez porque antes mesmo de gostar do 7 eu gosto de números ímpares. É mais desafiador trabalhar com imperfeições.
Mas, quando eu tinha 7 anos esse número não me parecia nada mágico.
Eu parecia uma caricatura e meu irmão me chamava de desenho, em referência aos desenhos animados.
Eu tinha canelas muito finas e era alta para a minha idade.
Não tinha os dentes da frente. Tinha o cabelo curto parecendo um moleque e muita sarda no rosto.
Eu era feia. Ponto.
Por algum tempo eu achei que todo mundo que tinha 7 anos era assim porque meus amigos e amigas de rua não eram lá tão diferentes. Eu me esforçava para pensar assim, apesar da minha melhor amiga ser loira de olhos azuis, mas eu fingia não ver.
As coisas começaram a mudar rapidamente quando minha irmã caçula nasceu.
Eu me chamava e me chamo Lusia, um nome que hoje se encontrou com minha faixa etária, mas com 7 anos, era um nome de senhora e eu não gostava dele.
Minha irmã se chamou e se chama Laís. O nome mais lindo e sonoro e feminino do mundo.
Para ajudar a piorar era o bebe mais lindo que conheci naquela época e fiquei ainda mais feia me comparando a ela. Cabelo mais claro, pele mais morena, olhar profundo, bochecha que convidava aos apertões. Sorriso também banguela, mas nela até ser banguela era bonito!
Naquela época eu não pensei que era o máximo ter uma irmã caçula tão fofa e linda e querida por todos, eu apenas tinha ciúmes.
Na escola, outro capítulo. Todos tinham a mesma idade que eu e eram mais bonitos.
Com exceção de uma menina que se chamava Joana à qual me afeiçoei muito, todos eram mais bonitos.
Joana era a mais feia, a mais pobre, a que tinha mais problemas de aprendizado e talvez por isso eu tenha tido compaixão. Ou talvez, porque ela era a única que me mostrava que sim, que tudo podia ser pior.
Então, já que era assim e eu nada podia fazer decidi ser a melhor da classe. Para meu sofrimento solitário. Não era muito difícil, eu lia e escrevia bem, gostava de fazer a lição (tarefa!), prestava muita atenção, mas quase morri de chorar quando tirei 98 e não 100, mesmo o 98 tendo sido a nota mais alta da classe e tendo recebido parabéns da Dona Terezinha, minha primeira professora, porque não fiz pré, fui direto ao primeiro ano.
Quer sofrimento mais inútil do que esse?
Mas aos 7 anos eu ainda não sabia!
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