quinta-feira, 28 de maio de 2009

Particularidades

Meu pai foi dirigindo o seu caminhãozinho, sozinho, da fazenda até a delegacia da cidade de Vera Cruz para tirar sua carteira de habilitação. Quando perguntado quem o tinha levado até lá, disse todo orgulhoso que já tinha ido dirigindo. Só não levou a primeira multa antes mesmo de receber a carteira porque era filho do Sr. Augusto.

Minha mãe tinha uma porquinha de estimação. Andava pela casa, tomada banho, como se fosse um cachorrinho. Brincava de esconde-esconde, ficava sempre atrás da porta da cozinha e quando minha mãe chamava Nininha, ela vinha correndo, mas acho que não balançava o rabinho de mola!

Minha irmã mais velha adorava os pintinhos amarelinhos que andavam pelo quintal da fazenda. Gostava tanto que pegava um em cada mão e apertava dizendo: ai que coisa mais linda! E soltava os pobrezinhos já sem vida. Não sei quantos foram.

Minha segunda irmã mais velha tinha medo dos porcos. Passava por eles pelo chiqueiro e choramingava dizendo que eles estavam fazendo "fusquinha" para ela entre o vão da cerca. Uma espécie de careta. Não era bem medo, no fundo ela achava que era pessoal, que os bichinhos não gostavam dela, que não queriam fazer amizade e por isso ela chorava sentida, apesar de toda paciente explicação da minha mãe.

O meu irmão, nascido e criado na fazenda, cercado de tanto gado leiteiro, era alérgico ao leite de vaca e meu pai o fotografou em frente a uma verdadeira pirâmide de latas de leite. Lá está ele, olhinhos curiosos, calção de pregas, camisa, todo alinhado para a foto. Não sei o que foi feito de tanta lata, mas elas foram parte da diversão e ele sobreviveu forte sem a contribuição das vaquinhas.

Depois dele foi quando eu cheguei. Não morávamos mais na fazenda. Mas ela vive em mim por DNA.

Minha irmã caçula, ainda mais citadina do que eu abusava de sua boniteza e todo dia, por volta das 4 horas da tarde dava um baile porque não queria tomar banho. Queria ficar descalça, com roupas leves, brincando na terra para sempre. A paciência de minha mãe só deu uma volta em uma dessas ocasiões, em que aquele bebe de quase dois anos lhe escapou do quarto, sem roupa, foi até o quintal, passou terra na barriga ainda meio molhada, voltou ao quarto e limpou-se na colcha da cama arrumada sem nenhuma preguinha. Foi o ato de protesto mais forte que já presenciei, eu não fui cara pintada.

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