Pedrinhas de Páscoa.
Pouco antes da Páscoa de 2007, minhas meninas viram em uma loja de brinquedos uma bola colorida que ao ser virada do avesso virava um coelhinho colorido e com cheiro: coelhitos.
Comprei um para cada uma com dor no bolso: R$ 19,90 cada.
Passado alguns dias minha primogênita me aborda:
- mãe, mas isso é de coleção, eu quero mais um!
- ah, não, não vamos colecionar, é caro e nem é tão bonito
- vou comprar com a minha mesada
- acho que não é um bom investimento, melhor não
E fui trabalhar. À noite, quando voltei para casa, ela me esperava ansiosa para anunciar:
- vou comprar coelhitos sem o dinheiro da minha mesada
- como?
Era a pergunta que esperava para me apresentar seu projeto. Carregando uma espécie de barco feito com uma folha de sulfite dobrada e reforçada me apresentou:
- vendendo pedrinhas de Páscoa!
Ela havia recolhido dos vasos do jardim pedrinhas brancas e pintado uma a uma com giz de cera com motivos que lembravam os papéis dos ovos de páscoa da minha infância.
Verde de bolinhas roxas. Listrados. Com triângulos, várias padronagens e começou o seu discurso:
- eu pensei em vender no condomínio, mas o papai não deixou, pensei em vender para as amiguinhas da minha irmã, mas elas não devem ter dinheiro, então pensei que você podia vender no seu escritório, para as suas amigas, a R$ 1,00
Não tive muita escapatória porque conhecendo pessoalmente vários dessas pessoas, certamente em algum momento ela poderia checar se eu tinha mesmo oferecido e eu não queria decepcioná-la.
Pensei, ok, levo, conto a história, presenteio e lhe dou algum dinheiro.
Mas as pessoas realmente quiseram comprar as pedrinhas e vendi todas, além de receber encomendas para o dia seguinte!
Quando comentei que as de bolinha tinham feito muito sucesso, ela se preocupou:
- nossa, fiz muitas listradas!
Durante o processo ela fez observações importantes, que considero como detalhes impagáveis:
- mãe, não vende esse barquinho de papel que deu muito trabalho pra fazer!
- ah, e avisa pra todo mundo que não é de comer! se alguém quebrar o dente eu não tenho dinheiro pra pagar o dentista
- e, o seu chefe não é rico? será que ele não quer comprar um carregamento?
Resumindo em um case de marketing temos que uma menina de 8 anos tinha um problema a ser resolvido: conseguir dinheiro para comprar coelhitos.
Como ela resolveu:
- criou um produto sazonal, aproveitando a proximidade de uma data muito comemorada, a Páscoa
- analisou potencial do target: condomínio, amigas da irmã caçula, companheiros de trabalho da mamãe
- focou no mais rentável
- negociou a distribuição, mamãe servindo de vendedora
- estabeleceu o preço
- identificou cliente com potencial de volume e indiciou para a vendedora (o chefe)
- alertou para o que deve e o que não deve ser negociado (a bolsa de papel não!)
- alertou para riscos legais e pagamento de indenização com uso indevido do produto por falta de informação
- preocupou-se com a reposição da mercadoria ajustando padronagem por demanda (+ bolinhas/ -listras)
E ficou em casa aguardando o lucro para, enfim, comprar o seu novo coelhito.
E não só para ela, completei com uns trocados e comprou um também para a irmã!
Os planos de negócios, as ações de marketing, podem ser absolutamente orgânicos se houver clareza de objetivo, simplicidade na estratégia e vontade de fazer!
Lusia, fiquei feliz que você foi visitar meu blog. E essas suas meninas são umas figurinhas...Bjos
ResponderExcluirSabe que eu adquiri uma pedra dessas, verde com listras vermelhas. Está na minha mesa no escritório até hoje!
ResponderExcluirAh se todos os clientes soubessem o que fazer com o seu produto com essa clareza. Nossa vida seria bem mais tranquila. Mande os parabéns.
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