terça-feira, 23 de junho de 2009

Meu pé de abóbora

Em um dos tantos endereços em que morei tinha uma pé de abóbora.
Como é que se diz pé, já que é um esparramado de folhas que se atrevem a crescer sem parar? Se diz pé?
É uma parreira rasteira.
É uma coisa linda de se ver.
É uma folha que pinica a perna.
É uma planta sensível, que se aborrece quando você aponta o dedo para sua abobrinha bebê e o aborta. É, é quase cruel. A mãe abobreira quer ter os seus bebês sem nenhuma interferência. Faça de conta que você não os viu!
E, nessa época, sob os protestos veementes de vó Amélia, eu calçava umas galochas e me aventurava por dentro daquela verdadeira floresta.
Era a minha amazonia.
Era o meu vale perdido onde a qualquer momento eu poderia encontrar um ovo de dinossauro.
Era cada vez maior, subindo pelas minhas canelas magras e raladas.
Não pude fotografar.
Naquela época as máquinas eram coisa de adulto.
Não pude filmar, subir na net, comentar no facebook, digitalizar.
Meu pé de abóbora vive apenas em mim.
Enroscado em minhas histórias infantis, pueris até o momento em que decido publicar.
E então, minha memória aborta mais uma imagem, magoada como a rama deixando cair a abobrinha ainda quase em flor.

2 comentários:

  1. Estou procurando como plantar sementinhas de abóbora e acabei encontrando esse texto lindo que me deixou só com mais vontade. =)

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  2. obrigada Cris e sucesso com a sua plantação de abóboras... abs, Lusia

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