sexta-feira, 19 de junho de 2009

Tédio

Perdeu a noção do tempo sentada no balanço, indo e vindo num ritmo compassado.
Olhando sem nada ver. Pensando em nada. Visualizando cores.
Só uma voz austera dizendo que já passara da idade e do peso permitidos nesse brinquedo.
Por que estava sempre no lugar errado, na hora errada?
Não sabia a letra da música.
Não sabia os números dos telefone dos amigos, dependente de memórias eletrônicas que por sua vez são dependentes de baterias, tomadas, atualizações automáticas.
Não sabia se uma frente fria chegaria ou se o sol aqueceria a tarde. Sol e céu de inverno são sempre tão mais bonitos porque o contraponto é sempre tão mais feio.
Perdeu a noção do tempo sentada no balanço.
Tanto a fazer com tão pouca vontade.
Talvez arrumar uma gaveta.
Talvez reordenar os dvds.
Talvez mudar os móveis da sala de lugar.
Talvez trocar as fotos dos porta-retratos.
Talvez reler um livro.
Talvez trocar as capas das almofadas.
Talvez escrever uma carta.
Talvez...
- moça, eu posso balançar?
- claro, pode vir...
Talvez contar os passos. Talvez espantar as pombas. Talvez tomar um sorvete. Talvez...

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