Era um ponto de ônibus como qualquer outro até o dia em que a conheceu ali.
Marcou sua alegria e sua tragédia.
No primeiro dia chegou apressado e perguntou se tinha horas sem sequer olhar para ela.
Ela percebeu que não era uma cantada e lhe disse que eram 19 e 30.
Então ele levantou os olhos para encará-la e voltou a olhar para o relógio que ela levava no pulso esquerdo.
Com uma cara esquisita.
Ela pensou que talvez fosse um assalto, mas então ele comentou:
- nunca alguém que usa um relógio digital me respondeu as horas de forma analógica, interessante
E ficou na fila, atrás dela.
Ela apenas sorriu. Demorou um pouco para entender o que ele queria dizer.
Depois disso, foram 7 anos de convívio cada vez mais próximo, entre amores e desamores namoraram, noivaram, casaram tradicionalmente com empadas e lembrancinhas.
Mas naquele 7 de setembro...
Era feriado mas ele ia trabalhar.
Ela disse que ia dormir um sono atrasado de muitos dias.
Ele chegou ao trabalho mas o mestre não estava bem e na hora do almoço liberou todo mundo.
Quando ele chegou ao ponto de ônibus o ônibus já estava no ponto e ele não esperou nem um segundo. Mas teve tempo de se lembrar do dia em que tivera seu diálogo mais sofisticado com ela, analógico, digital. Sorriso meigo ao lembrar.
Antológico foi encontrá-la com as pernas entrelaçadas em um corpo moreno, entre os seus lençóis de flores amarelas.
Não conseguiu se lembrar de mais nada, mas compreendeu, pelas manchas na calça e na camisa e pela movimentação de homens fumantes que o tempo acabou não importando se quem vai marcar serão os números piscantes separados por dois pontos ou um ponteiro arrogante circulando sem parar.
Um último pensamento sofisticado.
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