A menina estava no balanço.
Cabelo embaraçado. Pé descalço e sujo.
Olhos alegres em um vai e vem e parecia cantarolar alguma coisa.
O menino não se via por ali. Sempre trepado nas árvores da redondeza. Sabia coisas que dava medo.
Mas nunca usava as informações.
Cabeça baixa, olhar dissimulado.
Pode um menino ser dissimulado?
O gato dormia largado no tapete roto.
O cachorro quieto, nem deitado nem sentado espantava as moscas com o rabo.
A tarde estava tão quente que o ar parecia envolver e silenciar tudo.
Ela esfregava o colarinho no tanque que isso não tem jeito de limpar na máquina.
Não tem sabão em pó ou em líquido ou em barra que tire aquela gordura.
Queria deixar tudo limpo, arrumado, porque na manhã seguinte quando acordassem ela já estaria longe.
Sabia que iria chorar.
Sabia que se arrependeria no futuro se é que haveria um.
Mas não queria pensar nisso.
Precisava estender a camisa e recolher as crianças pra dar o banho e o jantar.
Por pra dormir, abençoar e depois do terceiro ou quarto ronco do dono da camisa que chegaria mal humorado para o jantar, sairia pela porta da cozinha, para nunca mais voltar.
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