Tentou sentar-se na cama mas não teve forças e voltou a deitar. Deixou-se abandonar.
Era um dia útil, mas ele estava inútil. Frio, chovendo, telefone em silêncio, TV desligada, nenhum passarinho cantando na janela, nenhum gato miando no quintal, nenhum cão latindo uma música inútil.
Um dia perfeito para abandonar-se a preguiça de apenas ser um ser cansado.
Cansado da rotina.
Cansado da falta de perspectiva.
Cansado do certo sem nunca dar de cara com o duvidoso.
Cansado do carro prata, que substituiu um preto.
Cansado da calça jeans e da camisa branca.
Cansado do tênis correto.
Cansado do cabelo cortado do mesmo jeito.
Decidiu ficar na cama e apenas ouvir a chuva.
Levantaria quando tivesse fome, se tivesse fome.
Levantaria quando tivesse sede, se tivesse sede e então, certamente levantaria para ir ao banheiro.
Mas não escovaria os dentes e nem tomaria banho.
Deitado de lado, afofou o travesseiro e olhou o relógio.
Imaginou a cara do porteiro que não o veria descer, jornal em punho acenando bom dia.
Imaginou a cara da recepcionista, espionando o elevador e selecionando o target para arrumar ou não o cabelo, medir o esforço do charme de acordo com o visitante.
E pensando assim foi adormecendo de novo. Parecia ouvir ao longe um chamado do celular, mas ignorou completamente e ficou feliz de lembrar que a bateria estava por pouco.
Era quarta-feira, um dia perfeito de chuva para gazetear.
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