sexta-feira, 17 de julho de 2009

Nasci de um ovo chocado ao sol

O trem insistia em aumentar o volume de seu barulho não importava o quanto apertasse os fones de ouvido.
Era uma viagem longa, uma viagem poeirenta, uma viagem sem sentido.
Sabia que ia voltar, mas não queria ir. Por que simplesmente não atendemos as nossas vontades e pronto?
De onde vem essa sequência de acontecimentos, como uma vassoura juntando as folhas de outono?
Não queria ir, mas a mãe disse que era importante e ali estava, tentando ouvir música, mas o barulho do trem não era amigável.
Não conseguia olhar pela janela. A paisagem além de sem graça passava rápido demais.
Mesmo assim viu um boi preto, ou era vaca? Olhando pra ele. Olhou mesmo, e aquele olhar perdido ficou parado no tempo.
A vó tinha cortado a árvore que cuspia folhas todos os dias, não importando se era primavera ou outono.
Todo mundo ficou chocado. Na cidade grande pessoas se amarram em troncos para que as árvores não sejam cortadas, mesmo naquelas infestadas de cupim e que vão cair em cima de um carro em uma chuvarada de verão.
E a vó! Essa estava cheia de varrer a calçada e o quintal todo dia. Não teve dúvida. Nunca contou quanto pagou ao tipo que nunca mais foi visto por ali. Onde será que a vó arranjou aquele tipo?
Na próxima parada compraria algumas revistas.
Não via o pai há sete anos. O que lhe diria?
E se descesse uma estação antes e voltasse sem lá chegar? O que a mãe diria?
Compraria também um gibi. Afinal, foi de Horácio que ele ouviu uma das frases mais tristes de sua infância: nasci de um ovo chocado ao sol...
Talvez tivesse sido melhor assim.

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