Causou inveja em todos quando cantou a música que fora escolhida. O destino deu a ela, somente a ela e a ninguém mais do grupo, aquela voz límpida, suave e afinadíssima.
Logo a ela que era filha de pais surdos-mudo que nunca a ouviriam cantar.
Ninguém ali tinha idade suficiente para ponderar sobre as armadilhas do destino.
Para alguns, além da voz límpida era também a mais bonita.
A que voltava bronzeada das férias de verão, com a saia cada vez mais mini explorando os pelos dourados da coxa.
Gesticulava muito defendendo uma posição com a qual todos concordavam.
Mas precisava falar e falar muito e falar alto.
Ninguém ali considerava que em casa era uma voz sem som. Gestos rápidos de quem dominava os sinais.
Lábios treinados para articular cada uma das palavras.
Natural que defendesse sua posição com voz, lábios e mãos! Mas para o resto do grupo era apenas demasiado!
Seus desafetos esbarravam nos que lhe tinham afeto e muito mais.
Depois perdeu-se. O grupo perdeu-se em destinos que não estavam preparados para seguirem uma mesma partitura.
Mas dela se achou rastro. Casou-se com seu primeiro amor, teve filhos, não seguiu carreira na música, no teatro. Gesticulou para si e para os seus o que o grupo via com desconfiança porque a voz límpida e afinada desafiava.
Alguns têm saudade, outros já a esqueceram.
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