sexta-feira, 3 de julho de 2009

Morte súbita é que é morte verdadeira

Amanheceu chovendo, mas essa era uma variável que ele não podia controlar.
Já decidir se sairia da cama sim, estava sob seu comando. Preferiu sair. Elencou rapidamente os pros e contras e preferiu encarar o dia chuvoso.
Prometeu a si mesmo que observaria cada ocorrência e avaliaria o poder de controlar que lhe caberia e, assim, evitaria qualquer contratempo.
Tomou banho, vestiu-se, tomou café. Nada de errado.
Quando já estava no carro lembrou-se de que precisaria de um guarda-chuva e voltou para apanhá-lo. Variável controlável, nervos no lugar.
Seguiu seu caminho habitual. Respeitou todos os faróis, todos os limites de velocidade. Ignorou a sonora buzina quando diminuiu e parou para deixar um carro sair de uma garagem.
Já no trabalho, cumprimentou discretamente os que foi encontrando.
Tudo na medida certa. Nem entusiasmado demais, nem mecânico demais.
Espiou o jornal antes de conferir as notícias da internet.
Um ritual, uma obrigação com a sua tradição. Seu lado old fashion reforçado a cada dia. Insuportavelmente coerente com a boa e velha notícia.
Leu alguns e-mails, conferiu a agenda e atendeu dois ou três telefonemas.
Olhou o relógio e deu um sorriso de satisfação. Já passava das dez e nada, absolutamente nada havia perturbado a calma que determinara para si.
Foi sua última constatação, porque no momento seguinte, uma dor aguda lhe subiu pelo braço, agarrou-o pelo pescoço e apertou seu coração como antigamente as mamas apertavam o pescoço das galinhas. Ainda fez um último gesto antes de cair derrubando cadeira e objetos da mesa.
Ouviu passos apressados e vozes que foram desaparecendo para sempre no mundo novo que desenhara para si.

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