Amanheceu chovendo, mas essa era uma variável que ele não podia controlar.
Já decidir se sairia da cama sim, estava sob seu comando. Preferiu sair. Elencou rapidamente os pros e contras e preferiu encarar o dia chuvoso.
Prometeu a si mesmo que observaria cada ocorrência e avaliaria o poder de controlar que lhe caberia e, assim, evitaria qualquer contratempo.
Tomou banho, vestiu-se, tomou café. Nada de errado.
Quando já estava no carro lembrou-se de que precisaria de um guarda-chuva e voltou para apanhá-lo. Variável controlável, nervos no lugar.
Seguiu seu caminho habitual. Respeitou todos os faróis, todos os limites de velocidade. Ignorou a sonora buzina quando diminuiu e parou para deixar um carro sair de uma garagem.
Já no trabalho, cumprimentou discretamente os que foi encontrando.
Tudo na medida certa. Nem entusiasmado demais, nem mecânico demais.
Espiou o jornal antes de conferir as notícias da internet.
Um ritual, uma obrigação com a sua tradição. Seu lado old fashion reforçado a cada dia. Insuportavelmente coerente com a boa e velha notícia.
Leu alguns e-mails, conferiu a agenda e atendeu dois ou três telefonemas.
Olhou o relógio e deu um sorriso de satisfação. Já passava das dez e nada, absolutamente nada havia perturbado a calma que determinara para si.
Foi sua última constatação, porque no momento seguinte, uma dor aguda lhe subiu pelo braço, agarrou-o pelo pescoço e apertou seu coração como antigamente as mamas apertavam o pescoço das galinhas. Ainda fez um último gesto antes de cair derrubando cadeira e objetos da mesa.
Ouviu passos apressados e vozes que foram desaparecendo para sempre no mundo novo que desenhara para si.
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