Amou um amor amadurecido e de certa forma endurecido.
Já tinha quarenta anos e nenhuma ilusão adicional.
Mas sabia entender os altos e baixos. Reconhecia o olhar de tristeza.
Sabia quando algo bom ia acontecer.
No final de semana, quando passava os olhos pelo jornal, vendo sem olhar, lendo sem entender, parava o olhar em um ponto qualquer da parede e sentia-se tranquilo por apenas estar ali.
Um amor sem pressa, sem pressão. Um amor sem paixão.
Lustrava os sapatos no final do domingo enquanto concordava com o sabor da pizza que pediriam logo mais.
Manoel nunca imaginou desposar mulher tão bonita. Tinha medo de ponderar e de perder.
Qualquer gesto adicional poderia desmanchar aquele castelo de cartas.
Casa limpa. Flores sempre frescas na mesa da sala. Toalha alinhada, ainda que não de linho.
Cada vez que ensaiava um gesto mais carinhoso, visualizava uma cena de repulsa, uma conversa dura e fim.
Amou um amor amadurecido e de certa forma endurecido, por puro medo de perder.
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