segunda-feira, 12 de abril de 2010

Delicadezas

Não sabia o que fazer com a sensação de o tempo está passando e nada está acontecendo!
Mordia os lábios. A unha não roía porque além de feio não é nada higiênico. Mas mordia a base do dedão. Tem um nome essa parte gordinha, quase palma, que quando fechamos a mão se avoluma?
Ali sim gostava de morder.
Olhava na agenda e as semanas pulavam umas sobre as outras. Sem constrangimento, sem desfaçatez.
Gostava de pular amarelinha. Isso sim faz sentido. Tem ordem, ida e volta e a sorte é toda sua da pedrinha cair na casa certa ou não. E o equilíbrio é todo seu. Tudo sob controle.
Carregava um mundo de idéias ensacadas, esperando o momento de transformá-las em é isso!
Mas quando é que isso acontece?
Conheceu gente que viveu a vida toda sem conhecer o mar.
Conheceu gente que nunca saiu da cidade onde nasceu.
Conheceu gente que deu de ombros por não saber uma coisa ou outra.
Conheceu gente que riu a valer de suas aflições.
Apenas vá vivendo minha velha, dizia a velha Açucena. Como teria sido seu rosto agora tão enrugado quando tinha lá os seus dezessete anos? Uma flor que ninguém colheu?
Uma angústia de quero mais, preciso mais, de temor do futuro, de aflição pelas coisas que se arrastam.
Resolveu que todo dia escreveria uma coisa boa que lhe aconteceu para cultivar pequenos prazeres. Preparou um caderno bonito, escolheu uma caneta macia e ficou com a mão suspensa, esperando desesperadamente se lembrar de algo bom para escrever.
Foi então que o telefone tocou e ela anotou:
... hoje, no final do dia, não atendi o telefone porque estava ocupada comigo, era hora de um copo d´água fresca e uma espiada pela janela...

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