terça-feira, 6 de abril de 2010

Onde andará Ana Maria

Não atendeu o telefone.
Não atendeu a campainha.
Não abriu a porta nem para pegar o jornal.
Ele ficou esperando.
Primeiro um telefonema, depois um recado, uma carta, um anúncio no jornal.
Ela não sabia como dizer.
Ela não queria dizer.
Na verdade ela nem entendia o que precisava dizer.
Mas o fato é que o amor se fora.
A vontade de conversar se fora.
Ver um filme? Não, melhor ler um livro na cama.
Jantar? Não, melhor preparar um sanduiche e mais tarde um copo enorme de chocolate.
Por isso deixou passar.
Ele questionou os amigos.
Ninguém sabe, ninguém viu.
Um dia ela resolveu que dispensaria a ajudante e ela mesma lavaria as roupas e os pratos.
Talvez passasse. E compraria um aspirador moderno.
Melhor não ir à festa da Mariana.
Nem pensar em ir ao casamento do Cadu.
No outro dia ela acordou mas resolveu não ir trabalhar.
Ficou na cama. Tudo desligado. Telefone. Som. Luz. Janela fechada.
Se não fez nada, não era preciso tomar banho.
Foi se deixando ficar.
Se ontem não foi trabalhar, por que deveria ir hoje?
Não tinha mais o luminoso do hotel em frente para distrair-se, era uma lei isso de não ter mais nome de nada em lugar nenhum?
Que importa?
Apavorou-se quando abriu o último pacote de biscoitos e puxou o último pedaço de papel higiênico.
Enquanto arquitetava estratégias para vencer esses desafios, toda gente andava se perguntando:
- onde andará Ana Maria?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.