sexta-feira, 23 de abril de 2010

O que posso fazer?


Quem determina onde nascemos, se nascemos homens ou mulheres e quanto tempo devemos durar?
Não, a resposta não deve começar com no princípio era o verbo!
Fico pensando nas mulheres. Não sou feminista nem feminininha, de usar lacinho, sou ser humano do sexo feminino, mas às vezes ouço ou leio algumas coisas e obrigatoriamente tenho que calçar os sapatos alheios e me transportar para as situações.
Uma província da China, mulheres que não podem dirigir, é lei e já tem quase dez anos, motivo: elas causam muitos acidentes.
Não concordo nem discordo com a teoria, se é machista ou não. Às vezes deixo alguns marmanjos no chinelo, em outras sou apenas esforçada, mas na média me locomovo bem de carro na cidade ou na estrada, tenho medo de ladeiras e como questionava ontem um dos meus amigos, na maioria das vezes, não entro na vaga de ré.
Como seria não poder dirigir? Moraria em São Paulo, perto do trabalho? Ou moraria em Jundiaí e trabalharia em uma banca de frutas? Não trabalharia e iria sempre com marido para os lugares? Faria tudo, tudo, de ônibus, trem e metrô? Táxi? Teria motorista?
Para cada pergunta uma variável capaz de mudar todas as repostas.
Ser uma afegã e usar burca, ser uma afegã, morar na França e usar burca.
Como seria usar burca? Calor. Cuidados especiais com a pele? Roupas improváveis por baixo do encerado? Seda pura? Para quê? Para quem?

O que faço com todos os sapatos que posso usar? Com todos os carros que posso dirigir? Com toda profissão que posso escolher? Com todos os livros que posso ler? Com todos os filhos que posso ter? Com toda religião que posso rezar? Com todo voto que posso votar? Com todos os blogs que posso escrever? Com todas as viagens que posso fazer? Com todos os olhares que posso olhar?
Com toda comida que posso comer? Com toda bebida que posso beber?
O que posso fazer para que todo ser possa simplesmente ser?

Um comentário:

  1. O final do texto me lembrou uma música do saudoso Raulzito: "...se eu aconteço aqui, se deve ao fato de eu simplesmente ser."

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