Sentou na calçada e disse que não ia mais a lugar algum.
A mãe caminhou serenamente e dobrou a esquina. Com as mãos frias, ficou quietinha, esperando.
Apareceu correndo, assustado, coração aos pulos.
- mãe, eu tava brincando, eu vou com você, não quero nunquinha ficar longe de você...
O olhos se encheram de lágrimas. Os quatro olhos.
Eu quero ir embora dessa casa! Eu não aguento mais. É tudo não. É tudo depois. É tudo a gente não pode filha! Que saco!
Era um tempo difícil. De viuvez trágica e recente. De filhas adolescentes para acabar de criar.
Uma tão quieta. Não só de tristeza, de natureza.
A outra tão ardida. Não só de revolta, da vida.
Sabe do que mais? Eu vou tomar veneno. Eu vou me matar! Não foi isso que o meu pai fez?
Num gesto extremo e misturado, deixou a filha no quarto. Na cozinha, pegou meio copo de água, misturou água e sal, gosto ensebado.
Voltou ao quarto, pegou a menina pelos cabelos, sentou na cama e foi obrigando-a a beber a mistura inocente.
- não quer tomar veneno? não quer morrer? pois toma, toma logo, toma tudo e acabamos já com isso
Sentindo o gosto estranho, esperneou, se sacudiu, se soltou, cuspiu e seguiram suas vidas silenciosas e cheias de dor.
- Olha, ganhei um desenho... que bonito!
- Não mãe, não é um desenho bonito. É um recado.
Sou eu e o Haku. Aqui é nossa casa ficando para trás. Essa é nossa trouxa de roupas.
Vamos para Hollywood, aqui em casa não dá mais. É todo mundo contra mim...
A minha caçula é bem menos radical em seus arroubos de fugir de casa.
O meu medo é que o destino é sempre muito longe, Estados Unidos, Espanha, França, mas como ela sempre leva o cão, devo confiar de que ele saberá trazê-la de volta!
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