quinta-feira, 8 de abril de 2010

Juca & Jaqueline

Ele loiro, de olhos cor de mel. Meigo, matreiro.
Ela morena, de olhos verdes. Meiga, ladina.
Gatos que me acompanharam nos anos 90.
Viralatas, oportunos, companheiros.
Ele, jogado no quintal de uma amiga com um punhado de irmãos, me foi entregue porque, segundo ela, eu gostava de gatos amarelos e desde criança não tinha um. Verdade.
Teve raquitismo porque não mamou na mamãe gata.
Levei-o ao veterinário diariamente por dias a fio porque extraí-se com sonda os restos do pouco que comia ou bebia.
Alimentado com sardinha crua, comprada na feira de nariz não tapado apenas para não ser indelicada com o vendedor.
Deitava-o em uma almofada no sol e era preciso ajeitar a posição porque sozinho não podia.
Um gato desenganado que sobreviveu para me mostrar que paciência e cuidado podem muito.
Ainda tenho isso?
Enquanto cuidava dele nada mais me importava. Que bom.
Viveu mais de dez anos. Sossegado em meu colo em tardes frias enquanto eu lia um livro qualquer. Um atrás do outro e mais outro. Tardes de sossego.
Ela, salva por tia Ana de um ataque feroz de um pobre coitado de um ser humano, que achou por bem amarra-la toda com barbante depois de espancá-la e jogar na rua.
Em um almoço de domingo ela me escolheu.
Pulou no meu colo, olhou nos meus olhos e nunca mais deixamos de nos entender.
Eu a levei para casa em um domingo de muito frio escondida em meu sobretudo, mesmo dentro do metro.
Seu único medo de gata arisca, de gata esperta, de gata inteligente, era da vassoura. Nunca precisou me contar o porquê.
Deitava-se sobre o livro que eu pretendia ler. E aprendeu abrir a maçaneta da porta da cozinha, subindo em um canto da pia, se resolvíamos que podia dar um tempo na área de serviço.
Jaqueline & Juca gostaram um do outro.
Companheiros por circuntâncias namoraram e tiveram filhotes.
Nos deixaram por velhice, quando as crianças chegaram.
Sem eles nossa vida teria menos graça.
Quase dez anos depois Dora chegou.
Minha caçula comentou:
- sabe mãe, ela anda pelo condomínio, todos gostam dela, mas ninguém quer ficar, ficar com ela e hoje ela me seguiu até aqui
- é mesmo? ela seguiu você pelo condomínio afora?
- bom, ela seguiu um pouco, depois ela ficou cansada e então eu acabei de trazer no colo mesmo
- hum...

Alimentada, registrada, com horário na veterinária para todos os procedimentos, dominou a casa, as crianças, o cão.
Acorda agitada e uma das principais tarefas dela é divertir-se com uma bolinha de papel, enquanto eu tomo café e contemplo a vida. Abasteço meu olhar de sua existência simples e descomplicada para encarar o dia a dia.

Um comentário:

  1. Me lembro do Juca pequenininho viajando pra Tupã nas férias. Muito lindos os três!

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