segunda-feira, 5 de abril de 2010

Não agora

De vez em quando tenho inveja dos loucos.
Do poder de apenas ser sem se importar com nada.
E na sequência fico com medo de ter inveja, porque inveja é um pecado capital.
Não tenho medo do fogo eterno.
Não acredito em cores para a inveja, branca, que não faz mal.
Não faz mal aos outros, a nós sempre há de fazer.
Se eu simplesmente saísse andando.
Andando e rindo e cumprimentando as pessoas.
Arrastando como a calda de um vestido branco que não usei a torrente de impropérios que me seriam ditas.
- como assim? não entregou o plano?!?
- não depositou o dinheiro da empregada?!
- não sei, não apareceu na reunião...
- minha mãe não pode vir na apresentação de música!
- não era pra ter um presente de aniversário para a Carolina?
- deixou o carro aberto, no meio fio, farol aceso
- levantou mas não escovou os dentes

Será que seriam essas as observações?
E onde estaria eu?
Num banco de nuvens fofas. Contando passarinhos.
Repousada de minhas obrigações.
O telefone toca. O telefone sempre toca quando queremos enlouquecer.
Um frio na barriga e um desejo enorme de que seja engano.
Tenho inveja dos loucos, mas não posso simplesmente decidir que vou enlouquecer.
Não agora.

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