Salvava bichinhos desavisados que caiam na pia, na água do banho, que não encontravam o vão da janela, que ficavam atordoados pela luz.
Quando a gata entrou correndo na sala, caçando, logo foi contida para que o bichinho pudesse ser salvo.
Qual não foi a surpresa ao encontrar, debaixo da estante, um vaga-lume assustado.
Um vaga-lume?
Eles faziam parte das noites de sua infância. E tantos, e tão bonitos, que não se lembrava de nada mais, se as noites eram de inverno, outono, primavera ou verão.
Esse era um vaga-lume diferente daqueles. Mais compridinho, mais magrinho, mais leve, com um verde lusco-fusco mais mágico do que aqueles outros. E era apenas um. Aliás, para vaga-lume não há coletivo porque não se deslocam em grandes grupos.
Se for mandatório deve-se usar enxame que significa grande grupo e que é usado para abelhas. Abelhas não brilham.
Pois depois de algumas tentativas o vaga-lume foi posto para fora da casa, pelo vão da janela, porque não voava alto e a gata, arisca, lhe daria o bote fatal.
A noite seguiu seu curso, pernas em cima do sofá, um programa qualquer na televisão, um vento frio lá fora, as crianças dormindo (que pena!).
Banho para fechar a noite.
Tão logo a água quente levou embora o cansaço, um brilho desenhou um traço no ar e os olhos percorreram a trajetória para encontrar um vaga-lume já afogado na água ainda quente do chão.
Se não havia um enxame de vaga-lumes, esse que escorregou lentamente para o ralo era o mesmo vaga-lume da sala.
Posto fora pela janela ficou voando solitário no corredor e voou para a luz do banheiro entrando pela janela aberta.
Quem controla o destino dessas criaturas?
Um aperto no coração.
Ler uma página do livro sempre transforma a realidade e traz um sono mais tranquilo, a não ser quando a página que o marcador nos abre diz:
... de sombra fictícia que está além do pequeno território desta pouca luz que nós, pobres vaga-lumes sem rumo, projetamos em torno de nós e no qual nossa vida fica como que aprisionada, como excluída por algum tempo da vida universal, eterna, para a qual nos parece necessário retornar algum dia...
La piccola mia lampa
Non, come sol, risplende
PS do livro O falecido Mattia Pascal, Luigi Pirandello, págs. 189-191
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