quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cibele

Tinha um nome diferente a menina, nem Luciana, nem Adriana, nem Mariana, um nome simples, mas diferente, desses que muitos acham bonito e muitos acham feio.

E era bonita a menina. A adolescente entre as meninas que almejavam ser e por isso olhava de lado, passava sem sorrir, não brincava mais, ah não, isso não.
Era morena.
Tinha os cabelos negros à meia altura. Começam lisos e depois ficavam cacheados, uma cascata.
Era dengosa.
Os meninos faziam rodinha para olhar, comentar, rir, desejar.
Mesmo de bermuda e camiseta parecia uma princesa.
E aquele olhar escuro, de quase soberba, de saber-se com três anos a mais que as meninas que ainda andavam descalças, apertando as saias entre as pernas para andar nas bicicletas maiores que elas.
Era boa aluna a morena.
Já estudava em uma escola para maiores.
E tinha amigos diferentes da turma da rua, que lhe visitam com os livros embaixo do braço, já faziam trabalhos que levavam a tarde inteira.
Tinha irmãos e irmãs a menina bonita.
Maiores e menores.
Tinha pai, mãe, uma vida organizada, uma casa boa, nem melhor nem pior do que as outras casas da rua.
E cachorros pelo quintal.
Um dia comentou-se na rua que a menina bonita ia mal na escola.
O pai brigou, achou que era coisa de namoradinho.
A mãe não entendeu.
A professora chamou e disse que a menina dormia durante a aula.
O irmão vigiou, será que saia a noite ou não dormia escrevendo poesias, bilhetes de amor?
Ninguém suspeitou que talvez a menina estivesse doente.
A professora má lhe jogou na cabeça o apagador quando ela pousou a cabeça nos braços cruzados sobre a carteira e dormiu.
Foi demais.
O pai foi falar com o diretor.
A mãe foi falar com doutor.
Pouco tempo depois a menina morena, bonita, morreu.
Tinha uma leucemia em estado tão avançado que nem padeceu.
Naquele tempo era doença que nem se nomeava, que não tinha cura e as crianças todas da rua ficaram com medo por muito tempo.
A rua ficou sem graça e todo mundo foi crescendo sem muito alarde.

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