quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na capital

Nunca tinha ido á capital, mas naquele domingo, acordou cedo, coração acelerado de ansiedade.
Viagem, bagagem, ia visitar uma amiga da irmã, com a irmã, na capital.
Não falava de outra coisa já havia muito tempo.
Almoçou cedo sem fome, tomou água sem sede, conferiu mil vezes se tudo estava em seu lugar.
Nem se despediu direito de pai e mãe, interessada em olhar o ponteiro do relógio brilhando no pulso, indiferente, caminhando em seu tempo.
Rodoviária.
Ônibus cheio. Gente com cara de que sempre fazia aquilo, melhor demonstrar indiferença, viagem corriqueira.
A irmã, a melhor das companhias.
Viagem longa, revistinha, livro, cochilo, janela e paisagem rápida que dá tontura.
Paradas, banheiros, uma água, um salgadinho, um pacotinho de qualquer coisa para comer no caminho. Um bombom, um chiclete, a capital.
Rodoviária cheia de gente. Uma gente esquisita, diferente, com pressa, carregada, que parece saber pra onde vai.
Ela de olho na bagagem e na irmã. Cara de qualquer coisa, de espanto, de cansaço, de medo, de achar tudo feio.
Cidade cinza em pleno final de tarde de domingo. Prédios que formam corredores, táxi mal cheiroso, um caminho comprido até a casa da amiga.
Sorriso tímido, nem muita coisa pra falar. Um jantar diferente do jantar da casa da mãe, umas conversas que não sabia como participar. Dormir.
Escovou os dentes. Apertou no peito o pijama cheiroso que a mãe pusera na mala.
Para ela, um colchão de solteiro na sala.
Dia seguinte, levantar cedo, 2feira, dia estranho para estar na casa dos outros, no banho um susto! O corpo inteiro cheio de pintinhas vermelhas que coçavam como quem pretende enlouquecer. O quê? Um pronto-socorro, um médico, umas perguntas de nada, ah, o salgadinho deve ter feito mal.
Pois sim, muitos anos depois descobriu que foi um verdadeiro banquete para as pulgas que habitavam o tapete daquela sala de casa que tem cachorro e que de sangue assim tão bom nunca se serviu!
Pois era isso a capital? Não trocava mais nunca pelo seu quintal!

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