quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Em tempo


Queria encontrar um jeito de dizer, mas não achava.
Queria encontrar as chaves do carro, mas nunca estava onde tinha sido deixada.
A janela que não fechava direito.
A porta sempre rangendo.
O armário com as roupas que se amontoavam e trocavam de lugar.
O cavalo que não para em pé e não enfeita, incomoda.
A água que pinga.
A consciência que grita.
Queria encontrar um jeito de dizer, mas dizer o quê?
Que estava no lugar certo, mas na hora errada?
Que ficou tempo demais no mesmo lugar?
Que estava lá, mas queria estar aqui e que agora que está aqui, tem saudades de lá?
Queria contestar, mas que esforço seria esse?
Era preciso nada mais do que escovar os dentes, ajeitar o cabelo.
Ouvir uma música, depois ouvir o silêncio.
Escrever um problema em um papelzinho e depois amassar.
Dar um telefonema.
Pensar na solução.
Queria encontrar um jeito de partir sem dizer adeus.
Uma sensação leve e não atordoada, um dia quente de primavera, não aquele vento gelado de noites inacabadas.
Queria encontrar um jeito de entender que quando não se encontra não significava que se está perdido para sempre.

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