sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Velhice








o último minuto pode ser o primeiro
de outra vida, de outro tempo,
olhava a roseira crescer observando a
gota de orvalho
que podia ser do choro de um anjo
que podia ter deixado de ser anjo
anjos deixam de ter asas quando se
apaixonam
as rosas são as primeiras a saber
as margaridas, baixa-estima em alta
ironizam
o girassol vira para o outro lado e
nem quer saber
por isso as rosas têm espinhos
avisos doloridos de que amar machuca
mas os anjos não sabem
não há anjo que retorne de sua dor
para contar
sentava na varanda em sua cadeira verde
e balançava um tempo sem vaidade
o muro baixo
a gente passando apressada do trabalho
o carteiro que trazia sempre apenas
um aceno ou uma conta
nunca uma carta, que já cartas
não se escrevem mais
o último minuto pode ser o primeiro
e por isso esperava ela já sem
esperança de nada
mas quando se levantou para entrar
empurrada por um ventinho frio
olhou para o céu e a lua crescente piscou
pediu em silêncio para o último minuto
deixar pra depois porque coisa
tão linda merece ser vista muitas
e muitas vezes
se benzeu e foi jantar
que a novela já ia começar

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