quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Algodão Doce

O que as roupas fazem com as pessoas?
Cobrem seus corpos nus.
O que fazemos com as roupas?
Espetáculos de elegância e de horror.
Quando era criança minha mãe comprava lindos tecidos e costurava para mim.
Vestido delicadamente florido.
Uma calça verde limão saint tropez. Não precisamos datar nada, apenas seguir o caminho das roupas.
Uma blusa azul com listras vermelhas na manga.
Minha linda blusa vermelha, de inverno, com capuz.
Quando adolescente a coisa mudou um pouco.
Minha mãe seguia costurando mas já inspirada por meus desejos.
Quando me mudei para São Paulo, nada, qualquer coisa, um jeans e uma camiseta ou uma camisa até que descobri vestidos longos demais e outros curtos demais em lojas alternativas, que combinados com alpargatas ou chinelos havaianas me davam um ar hippie total.
E foi nesse momento que surgiu um casamento.
O que é uma roupa para uma cerimônica de casamento? Um pesadelo.
Que cor, que altura, que modelo, que tecido, que padronagem, passaremos frio ou calor? Por quanto tempo? Mas a compra, em um grupo de amigos, totalmente descolados dessa realidade de frufrus pode ser antológica.
Em quatro, três meninas e um menin percorremos lojas.
Logo me achei com um modelito que me deixava absolutamente confortável e elegante, sob o meu ponto de vista, discutível, mas com aprovação do grupo.
Sentar e esperar pelos demais. O menino foi o segundo e, sendo o mais crítico de todos, um alívio.
E não posso esquecer um aprendizado importante: a verdade, muitas vezes dura, pode salvar vidas.
A terceira menina, praticamente uma intrusa em nosso trio, mas prima do menino e por isso bem aceita, em seu décimo vestido experimentado sorri e desfila confiante:
- achei!
Com um olhar delicado, mas uma voz firme, ele a salvou quando resolveu dizer:
- por favor, você é baixinha, um pouco gordinha, com esse vestido rodado, rosa, está parecendo um algodão doce, não, definitivamente, esse não!

Rimos muito, ela incluída. O destino já os levou dessa vida, tão jovens, cada um em sua tragédia solitária, mas rir da vida e de si mesmo é o que salva toda gente!
Amanhã tem festa. Com que roupa eu vou?

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