sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Só um café

Passou a mão na cabeça. Uma vez, duas vezes. Procurava as palavras porque já tinha perdido a verdade. A verdade dele era a dor dela e não sabia em que medida devia atenuar. Ela esperava. O coração acelerado já se preparava para ouvir o que não queria - essa era a verdade dela. Não se movia, apenas esperava que ele se decidisse a falar. Uma semana, um mês, um ano, alguns anos... Como se resolve isso em um café? Desconhecia o lábio trêmulo dele e quase adivinhou que ele não teria coragem de dizer a verdade. A verdade é que não há medidas para o amor. Ela amava mais? Ele amava menos? Pesava mais para ela manter o carinho no meio do turbilhão da vida moderna? E para ele? Pesava quanto? Quanto media cada gesto dela? E ele? Media alguma coisa? Ele pediu mais um café enquanto o dela já esfriara há tempo. Assim que ele levou a xícara à boca ela disse sem meias palavras:
- Então tá, parece que você não tem o que dizer mas eu já entendi. Não vamos além do café. Sem croissant, sem geléia, frutas ou suco. Sem leite ou chocolate. Eu sinto muito mais do que você pode imaginar, mas eu também sinto por você que não consegue encarar a si mesmo. Se posso pedir uma última coisa eu peço que pague o meu café, estou sem nenhum trocado. Tchau, a gente se vê por ai.

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