Ela usava um laço de fita cor-de-rosa no cabelo. Era estranho, mas ninguém parecia estranhar.
O cabelo preto, meio encaracolado, um corte feito em qualquer salão de bairro.
Na boca um batom meio marrom. Não combinava com o tom de pele. E mais nada. Nem um lápis, nenhum delineador, uma corzinha na bochecha. Nada. Somente aquele batom desenhando os lábios. Bonitos. Bem feitos.
O vestido tinha um comprimento indeciso. Não queria mostrar os joelhos mas também não parecia muito amigo da canela e assim, ficava no meio do caminho. De um salmão apagado que fazia o laço da cabeça gritar ainda mais.
Sandália sem graça. Dessas que se compram em lojas populares não pelo fetiche do sapato, simplesmente pela prateleira numérica: aqui ficam os de número 37 da faixa de preço que varia entre 49,90 a 79,90. De uma cor que não se sabe definir.
O conjunto não era homogêneo, não era elegante, mas ali reinava ela.
Não importando quão modernas as outras se apresentassem.
Com suas pulseiras e bolsas agigantando-se em cada movimento.
Com o corte bem feito das peças, com as cores certas, com a proporção da arte urbana.
Com seus esmaltes em dia, com seus cílios enegrecidos, com seus cabelos perfumados.
Não, isso tudo de nada servia, ali reinava ela.
Entre um meio sorriso e uma meia palavra, um olhar atravessando a cena, entre um sim e um não, foi marcando território.
Para matar o tempo, a que não tinha lá tanto charme assim, mas que jamais usaria um laço cor-de-rosa na cabeça anotou na agenda: dentista dia 26, manicure dia 28, trocar a calça no sábado, cortar o cabelo dia 03, e a reunião seguiu, como se nada mais importasse além do... além do...
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