O que guardava lá dentro ninguém sabia.
Estava sempre ajeitando as coisas por um pequeno vão do zíper aberto, como quem guarda um segredo.
Se chovia, de lá saia o guarda-chuva.
Se esfriava, de lá saia uma malha.
Se alguém reclamava de fome, de lá saiam alguns biscoitos, um chiclé, uma barra de cereal.
Se tinha dor de cabeça, de lá saia um remedinho.
Ao sentar no metrô, um livro magicamente surgia da mochila e a viagem tinha outro destino.
Vasculhava todos os bolsos e recantos em busca de moedas para um pedinte, quando na verdade precisava tanto quanto ele.
Uma garrafinha de água sempre no bolso lateral da preciosa mochila.
Velha, mas perfeita. E limpa porque sempre em contato com a roupa.
Por no chão? Nem pensar, se é possível apoiar sobre os pés!
A mãe não lhe dizia nada sobre o pai, sobre as contas que se acumulavam, sobre o aluguel vencido, sobre o risco de perder o emprego, sobre a doença da avó.
Mas sempre queria saber sobre suas notas na escola, sobre seus amigos, sobre seus hábitos alimentares, sobre suas possíveis namoradas, sobre seus amigos, seus programas, sobre seu dentista.
Mas sempre queria saber sobre suas notas na escola, sobre seus amigos, sobre seus hábitos alimentares, sobre suas possíveis namoradas, sobre seus amigos, seus programas, sobre seu dentista.
Naquela manhã ele apenas deu um beijo na testa da mãe que estava sentada terminando uma xícara de café e saiu.
Não disse nada. Ela esboçou um sorriso e também não disse nada.
Quando ela recuperou a mochila, ralada, suja mas intacta começou a revelar seu conteúdo misterioso.
Um livro de Dalton Trevisan.
Algumas balas. Um chiclete. Um pacote de biscoito.
Um caderno de capa vermelha cheio de anotações.
Mas o que mais a impressionou foram os recortes de jornal com fotografias do pai e suas intermináveis entrevistas.
Bonito ainda, poderoso mais do que nunca.
Como ele soube? Como ele sabia?
Um assunto inacabado. Uma dor para sempre.
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