Quando bateu palmas e foi recebida pela mãe, a menina tratou de sentar-se na saleta ao lado para fazer a tarefa.
Pé descalço, sujo de terra, cruzado embaixo da perna e ouvido muito atento.
Afinal, era traquina e brincava muito com as crianças da casa bonita, será que tinha aprontado alguma?
Ouviu parte da conversa, falavam baixinho e a mãe usava palavras de conforto.
Espiou e viu quando ela enxugava uma lágrima.
Levantou na ponta do pé e ficou atrás da parede, preocupada.
- nunca pensei que isso pudesse acontecer... quase morri de vergonha, o médico tentou ser gentil, doença íntima, seu marido viaja muito
- é, eu nem sei o que dizer, mas é melhor pensar que agora que já sabe o que é, consegue se tratar
- mas como olhar pra cara dele? falar? não falar? não sei o que fazer!
-melhor falar
Desinteressou-se da conversa, voltou à tarefa e ficou pensando, aliviada, que não era responsável pela visita inesperada, nem por aquela choradeira. Mas ficou triste. As mulheres ricas, bonitas, que não andavam pra lá e prá ca enxugando a mão no avental também choravam.
Passou correndo pela cozinha, fingiu que não viu nem ouviu nada, pegou um pedaço do bolo que fora servido com café e desapareceu no quintal.
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