segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Monstro

A mala pesava muito.
Mas nada podia pesar mais do que o seu pesar.
A mágoa. A surpresa sabida.
A sensação de ser um luminoso no meio da multidão quando a vontade era desaparecer.
Por que desse jeito? A mala continha coisas inúteis, mas era dela.
Acumuladas durante anos. Para quê?
Para pesar, para ficar ali jogada aos pés enquanto esperava.
Para incomodar.
Para fazer lembrar depois de muito tempo.
Uma sequência de sentimentos em ritmo frenético: raiva, decepção, alívio, desprezo, raiva mesmo e esse alívio tão disfarçado no meio de tanta coisa ruim.
Oito horas da noite. Por que o tempo não anda depressa quando se espera e por que anda tão rápido quando se está atrasado?
Tempo não é um conceito e tão pouco é um aliado. Não, definitivamente não é um aliado, é quase um inimigo.
Tira a coloração da pele.
Tira a firmeza da mão.
Tira o brilho dos olhos, mas não tira a mala pesada empurrada para um canto enquanto a carona não vem.
Nem frio nem calor. Apenas um frio na barriga.
Nada podia pesar mais do que o seu pesar. Assim pensava ela, mas hoje já sabe que há coisas bem piores.
Entregar novembro ao passado. Receber dezembro do presente e viver o hoje pelo hoje.
Sem data e sem hora, pé ante pé para não despertar o monstro que por hora se escondeu.

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