quinta-feira, 4 de março de 2010

Alô

Se não ligo, fico pensando em tudo que poderia ter falado, se ligo, acho que, de fato, não tinha nada para ser dito.
Gosto das pessoas, de estar com as pessoas, de escrever cartas, bilhetes, emails, recados em todo lugar, mas não gosto do telefone.
Tenho um aparelho bacana, mas quase mudo. E quando ele toca, me dá um frio na barriga.
Quando não toca, fico ensimesmada, achando que não se importam comigo.
Eu com ele, eu sem ele, nós quatro...
Fico prorrogando a chamada, mas atendo no primeiro toque.
Se não há expectativa, não há decepção.
- alô...
- é a lusia?
- sim, sou eu
- então, o damaceno falou que não dá pra compra o carro agora não
- que damaceno? que carro?
- não é a lusia?
- sim, mas deve ser outra
- outra lusia?
- é, deve ser outra porque não sei de nada disso
- ah, fia, desculpa, então chama ela aí pra mim... o damaceno...

Santo Deus... se eu não tivesse atendido não teria sido uma ligação perdida.
Não para mim.

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