sexta-feira, 12 de março de 2010

Quase cotidiano

Dia quente.
Almoço misto de novo-velho amigo e business.
Tudo parece fora de lugar.
A rua curta em extensão, em bairro charmoso, com seus fios soterrados, postes abolidos e calçadas largas parece habitar o primeiro mundo.
Indiferente ao seu posicionamento no mapa.
A comida pode ser a mais simples e caseira, já a conta, entreguei o cartão de crédito e ignorei os números. Não é hora para aborrecimentos.
Uma comemoração sabe lá de quê, talvez de um aniversário, reúne cerca de 30 mulheres de idades indecifráveis. De cabelos tão lisos que nada poderia enfeitá-los. De presentes bem embrulhados, pequenos, sofisticados em punho.
Na calçada esperando o carro, acompanhando o desfile de motores.
Homens com circunferências assombrosas encaixando-se em suas Mercedes baixas, homens baixos escalando seus utilitários importados, blindados, reluzentes.
E sobre tudo o isso o sol. Delicioso sol.
Um homem negro se aproxima, já passou dos 60, mas ainda é bonito, deve ter sido muito bonito, de uma elegância que não se compra, que terno nenhum imita e nos aborda:
- excuse-me vocês precisam de três milhões para passar o fim de semana?
Pergunta enquanto nos estende bilhetes da loteria federal.
Meu amigo argumenta que lhe geraria um problemão.
Eu penso que não seria nada mal ter três milhões para esse próximo final de semana, e já penso em sua destinação, mas quando saio do sol e encaro a minha realidade pondero:
- talvez tenha apenas três reais, mas poderei ser feliz com eles, posso comprar dois picolés e fotografar a cara melada das minhas gurias!

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