terça-feira, 16 de março de 2010

Lucia

Há nas histórias que contamos pontos que podem separar uma biografia.
Conheço algumas.
Minha irmã Lucia é a menina dos olhos azuis, primeira filha, espevitada.
A menina que ganhava bonecas de louça do avô e se aproveitava de sua presença para fazer muitas traquinagens, porque ele, assim como meu pai, com os netos, tinha o discurso clássico:
- deixa ela...
A menina que adorava os pintinhos que se agrupavam em volta da mamãe galinha mas que mesmo assim, sucumbiam em manifestações de carinho, que de tão apertados, acabavam estragulados.
A menina que brincava no monte de palha de arroz, com a tia sem juízo, quase congelando os pezinhos, enquanto a mãe, de resguardo com outro bebê, chamava sem ser ouvida.
Histórias que me contam.
Ás histórias que posso contar dão conta de uma irmã interessada, carinhosa, que cosia casacos de boneca para mim.
Que sem muita paciência me pintava as unhas da mão.
Que ameaçava jogar no lixo qualquer brinquedo pelo caminho quando se punha a varrer a casa para ajudar minha mãe.
A irmã que foi morar na capital. Que nas visitas me enchia de presentes. Que penteava meu cabelo em um coque alto na cabeça e elogiava meu rosto quando eu mesma achava que tinha só nariz e nada mais.
Com ela parti. Com ela conheci a minha vida nova longe de pai e mãe.
Com ela fui descobrir a Liberdade, o bairro e um jeito novo de viver. E uma liberdade conquistada aos pouquinhos, conforme a responsabilidade ia crescendo.
Foi pai e mãe. Foi amiga. Foi meu porto seguro quando não escolhi os melhores caminhos e tive de recuar.
É aniversário dela hoje.
Atrevida, nasceu primeiro para ficar mais tempo com pai e mãe.
Tão querida, que me envergonho de não conseguir escrever tudo o que queria dizer!

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